Sintomas físicos do excesso de trabalho

O que é, o que causa, quais as consequências e como evitar essa tendência corporativa moderna
28 de Julho de 2025
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O quiet quitting, traduzido como “demissão silenciosa” ou “desistência silenciosa” é um fenômeno do meio corporativo grandemente impulsionado pelos efeitos da pandemia e por millenials e zoomers (Geração Z).
Uma pesquisa de 2023 realizada pela EDC Group, empresa brasileira de consultoria, conversou com 300 profissionais para entender mais sobre a tendência. Os resultados mostraram que os mais adeptos ao quiet quitting são os homens (67%), geralmente assistentes ou analistas (54%). Os mais afetados são profissionais que já têm certa experiência no mercado, jovens entre 25 e 34 anos.
A Gallup também realizou seu próprio estudo, esse em escala global. Analisando 160 países, o levantamento concluiu que a taxa geral de quiet quitting é de 59%, a mesma média do Brasil. Apensar disso, o mercado nacional apresenta engajamento de 28% — consideravelmente acima do índice mundial, de 23%.
Índice:
O colaborador que pratica quiet quitting faz apenas o necessário dentro do escopo de sua função de trabalho. Não há engajamento ou esforço além das responsabilidades descritas na descrição do cargo.
É difícil apontar o momento em que o quiet quitting surgiu, mas é seguro dizer que esse fenômeno se popularizou na internet a partir da pandemia, quando a dinâmica de vida profissional e social sofreu grandes alterações.
A prevalência de distúrbios mentais, como ansiedade e depressão, cresceu 25% após a pandemia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Esses dados indicam que a saúde mental passou a ser um problema levado muito mais a sério por grande parte da população.
O quiet quitting, portanto, pode ser encarado como uma estratégia que as pessoas encontraram de evitar os minimizar esses efeitos, estabelecendo limites entre trabalho e vida pessoal e priorizando o bem-estar — algo que correu grande risco durante a crise sanitária.
Isso também mostra como a relação com o trabalho vem passando por grandes transformações. Antigamente, ser workaholic era algo almejado e adotado por muitos. Hoje, muitos favorecem a saúde e as relações sociais, fazendo o que julgam necessário para prevenir o burnout e outros problemas psicológicos.
Outro motivo para a demissão silenciosa é a insatisfação com o trabalho. A pesquisa da EDC Group também mostrou que 19,51% dos profissionais (a maioria mulheres) se sentem angustiados, desmotivados ou sobrecarregados.
Isso pode ser atribuído a diversos fatores, como remuneração aquém do esperado, falta de reconhecimento, acúmulo de função, ambiente pouco saudável, cultura organizacional falha, liderança abusiva, entre outros.
Em teoria, apenas cumprir as obrigações profissionais não é algo ruim, mas isso causa um distanciamento que, ao longo do tempo, derruba a produtividade da empresa.
Quando um colaborador não estabelece uma conexão maior com seus colegas de trabalho ou seu líder direto, ou se recusa a participar de atividades optativas, mas que agregariam muito em suas tarefas profissionais, deixa de lado aquilo que poderia contribuir para maior desempenho. Desengajamento gera desengajamento, o que significa que as chances de um quiet quitter mudar de atitude são baixas.
O quiet quitting também tem o potencial de evoluir para situações mais sérias, em que o colaborador até mesmo deixa de cumprir suas responsabilidades ou reduz a qualidade das entregas para gerar a demissão. Assim, é como se a pessoa já tivesse se demitido, mesmo que não de forma efetiva.
O resultado não poderia ser outro: queda de lucros. Segundo a Gallup, o baixo envolvimento profissional custa US$ 8,8 bilhões à economia global, o equivalente a 9% do PIB mundial.
O quiet quitting se manifesta de diferentes maneiras, conforme as especificidades da função, da empresa e dos colaboradores.
Mesmo assim, existem alguns sinais clássicos:
Estabelecer limites que possam preservar a qualidade de vida não é algo negativo e deve, inclusive, ser algo incentivado. O ponto é que os colaboradores e a empresa devem entrar em um acordo em relação a isso, alinhando expectativas mútuas para que não haja um desencontro de resultados.
O RH e os líderes, portanto, podem tomar algumas medidas para evitar o quiet quitting.
Os colaboradores devem entender o que é esperado deles. Além da descrição do cargo na divulgação da vaga, é indispensável que o profissional seja informado, de maneira muito clara, sobre o que precisa fazer, como deve se comportar e como pode crescer na empresa (plano de carreira).
As pessoas se sentem valorizadas e mais motivadas quando seus esforços são reconhecidos.
Elogios, feedback positivos e até prêmios ou recompensas são estratégias que levantam a moral.
A habilidade de escutar é parte fundamental da comunicação assertiva. Dar ouvidos ao que as equipes têm a dizer é um modo de mostrar que suas opiniões importam e de obter direcionamento para executar possíveis ajustes nos processos organizacionais.
O desengajamento acontece de forma gradativa e silenciosa, e pode ser tarde demais quando for finalmente percebido.
A solução é medir a taxa de engajamento dos times a partir de pesquisas/ questionários (anônimos ou não) e dos feedbacks obtidos em reuniões 1:1 ou com mais participantes.
A sobrecarga pode acabar com o engajamento porque o colaborador está exausto física e mentalmente. A distribuição de demandas é uma maneira de equilibrar a carga de trabalho sem assoberbar ninguém.
O esforço é raro quando a remuneração não é adequada. Compensação justa e benefícios atrativos — como plano de saúde, vale-refeição, vale-cultura, seguro de vida, entre outros — não são apenas estratégias de retenção, mas também de engajamento.