E se o medo de errar estivesse estagnando sua equipe?

A cultura do medo substitui as chances de aprendizagem atribuídas aos erros por insatisfação e baixa produtividade

3 de Julho de 2025

Leitura de 7 min

medo de errar e sofrer punições é um monstro que assombra muitos trabalhadores. Feita com mais de 2 mil colaboradores de empresas de diferentes portes, a Pesquisa de Segurança Psicológica da Pulses, plataforma de soluções em clima organizacional, mostra que 54% das pessoas temem retaliações caso falhem no trabalho.

Ainda que muitos se sintam seguros em seus empregos — 86% se dizem respeitados e 72% confortáveis para compartilhar percepções a suas lideranças diretas —, 40% dos entrevistados afirmam que não podem debater certas questões32% não concordam que as empresas acham aceitável errar nas primeiras tentativas.

O tempo de casa é um fator que pesa. 91% dos que acreditam que vão sofrer represálias trabalham há 15 anos no mesmo lugar. Aos profissionais com seis meses de trabalho, a taxa cai para 37%.

De acordo com Renato Navas, Head de People Success na Pulses, é preciso analisar se o medo é irracional e produto de insegurança em relação às tarefas ou da dificuldade de compreender a cultura organizacional, ou se é uma perspectiva baseada em evidências reais que indiquem prejuízos em caso de erros.

Nesse sentido, a empresa tem um papel fundamental. “Cabe à organização refletir sobre como os processos internos podem estar passando uma mensagem implícita de que é melhor não errar”ele aponta.

Índice:

Cultura do medo

No livro Cultura do Medo, de 2003, o sociólogo norte-americano Barry Glassner diz que o fenômeno que dá nome a sua obra é fabricado por alarmistas que se aproveitam das limitações das pessoasenfatizam perigospregam o pânico para, de uma forma ou de outra, lucrar.

Glassner trabalha em um contexto social e de responsabilização midiática, mas a mesma lógica pode ser aplicada nas empresas. No universo corporativo, a cultura do medo é uma pauta relativamente recente que busca discutir as práticas danosas do temor sobre a configuração organizacional.

O principal receio, é claro, é perder o emprego, mas o medo pode se manifestar de outras formas, como evitar o compartilhamento de novas ideias por temer ridicularização ou perder a confiança dos gestores e colegas.

“É melhor ser temido do que amado” é uma famosa frase comumente atribuída a Nicolau Maquiavel, conhecido pelo pensamento de que atitudes consideradas imorais são válidas para alcançar objetivos e manter a ordem. Aqui, existem dois enganos: o filósofo italiano não é autor da citação e a afirmação tampouco é verdadeira.

Especialistas estão convencidos de que o medo é um detrator do desempenho profissional, como diz a psicóloga e consultora de negócios Sheila M. Keegan, autora do livro The Psychology of Fear in Organizations“Pessoas amedrontadas não performam bem. Sabemos que, quando somos felizes e produtivos, trabalhamos de forma mais eficazdisse em entrevista.

As estatísticas corroboram. Um estudo da Universidade de Warwick, da Inglaterra, afirma que profissionais felizes são até 12% mais produtivos, também aumentando os lucros líquidos em 21%.

Isso mostra que os líderes que adotam uma política de controle, pressão e ameaças não tomam as melhores decisões de negócio pelo simples fato de que suas equipes se tornam incapazes de fazer boas entregas por estarem sempre receosas de cometer erros e serem punidos.

Sinais de medo nas organizações

O medo no ambiente de trabalho não passa despercebido. Atente-se a esses sinais:

  • Resistência em compartilhar insights ou expor opiniões verdadeiras;
  • Foco excessivo (e pouco saudável) em resultados, metas e métricas;
  • Pouco espaço para construção de laços entre líderes e liderados, bem como colegas da mesma ou de diferentes equipes;
  • Incapacidade de mostrar vulnerabilidade, principalmente aos gestores;
  • Receio em tirar dúvidas e buscar orientações;
  • Rumores e conversas não oficiais sobre supostas má condutas e suas consequências, intensificando o pânico generalizado.

Como lidar com o medo no trabalho?

Lidar com o medo de errar pode ser uma tarefa complicada. Além das inseguranças individuais, cada pessoa tem uma bagagem que influencia seus sentimentos e comportamentos. Seja o contexto familiar, cultural ou experiências profissionais anteriores, esse receio é um problema tratado aos poucos, no decorrer dia a dia, em forma de atitudesestrutura da cultura organizacional.

Sendo assim, os líderes devem tomar à frente e não permitir que o medo se enraíze na empresa.

Errar é normal

Erros são comuns e suscetíveis a acontecer mais vezes do que a maioria das pessoas gosta de admitir. É claro que todos fazem o possível para que nada de errado aconteça, mas é impossível eliminá-los completamente.

Considerando que os profissionais se esforçam ao máximo para operarem da maneira corretacondená-los por deslizes pontuais não parece justo.

Alguns erros são maiores do que os outros e podem trazer consequências mais ou menos graves, mas é preciso analisar o que é relevante e reparável, buscando também tranquilizar o colaborador já abalado pela situação.

Esse é o momento de mostrar empatia e colocar em prática a confiança construída gradativamente ao longo do tempo.

Comunicação não violenta

comunicação não violenta consiste na habilidade de trocar ideias sem que ninguém se sinta ferido ou ofendido. Mesmo em situações desagradáveis, saber conversar de maneira respeitosaconsciente é o elemento-chave para desenvolver ambientes e relações saudáveis.

Um dos principais medos em relação ao erro é a repreensão agressiva e degradante. A advertência faz parte das responsabilidades de um líder, mas a maneira como isso é disseminado faz toda diferença

Nem é preciso dizer que xingamentos e palavrões não têm espaço no ambiente de trabalho, mas o mesmo vale para tom de voz exageradamente ríspidosarcasmopostura passiva-agressiva, etc.

Erros não são motivos para demissão

Na maioria dos casos, os erros não são graves e frequentes o bastante para culminar em demissão. Mesmo assim, isso é o que mais tira o sono das pessoas.

Falhas menos preocupantes ou que possam ser reparadas são facilmente esquecidas – ainda mais se o profissional em questão costuma se comportar adequadamente e cumprir suas funções sem tropeços.

Sendo assim, na hora do feedback ou de sentar para encontrar soluções que possam reverter o erro, o líder deve tranquilizar o colaborador ao afirmar que o seu emprego não está em perigo.

Foco nos acertos

Focar nas coisas positivas pode parecer papo de sonhadores e otimistas, mas é algo extremamente poderoso.

Acertos são muito mais frequentes do que erros dentro das empresas. Caso o contrário, os negócios nem ao menos estariam de pé.

Analise uma equipe ou uma pessoa específica e coloque todos os elementos importantes na balança. Se o sucesso for mais recorrente que os problemas, será que vale à pena pensar apenas no que não deu certo?

Instruções são o antídoto dos erros

Alguém mal instruído ou informado certamente tem mais chances de errar. Para evitar ruídos e imprecisão, ofereça instruções claras sobre uma tarefa específica ou como funciona a operação da equipe e da empresa.

Com transparênciacomunicação assertiva, os colaboradores são equipados com todo o necessário para exercer suas atividades da melhor maneira possível.

Desta forma, também é importante demonstrar abertura para tirar dúvidas e pedir ajuda. Esse é um aspecto concebido aos poucos, tanto por meio da maneira como o líder se comunica, quanto pela prática de uma cultural organizacional saudável e funcional.

Erros como oportunidade de aprendizado

Erros não são o fim do mundo. Muito pelo contrário — são oportunidades para fazer melhor.

No momento do feedback, explique ao colaborador qual foi o erropor que a falha pode trazer contratemposcomo agir para corrigi-lo e evitá-lo no futuro.

Se alguém comete um erro, corre menos riscos de repeti-lopode adquirir táticas para entregar ainda mais qualidade.

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