Planos de Desenvolvimento Corporativo e Individual: Rumo ao Sucesso Coletivo

Esse fenômeno corporativo arbitrário pode mexer com as estruturas organizacionais e até resultar em processos legais
6 de Agosto de 2025
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O quiet quitting é um termo que vem navegando pelas redes sociais e os corredores das empresas há algum tempo, mas o quiet firing, apesar de muito comum, é relativamente desconhecido.
A “dispensa silenciosa” ou o “desligamento silencioso” já atingiu 73% dos trabalhadores norte-americanos, de acordo com o "Quiet Firing Report", realizado pela Zety, plataforma on-line de geração de currículos.
O estudo aponta que as principais táticas são aumento de trabalho sem ajuste salarial e microgerenciamento excessivo. A pressão faz com que 14% dos colaboradores peçam demissão e 17% considerem o desligamento. Ao mesmo tempo, 29% dos entrevistados afirmaram que já viram algo do tipo acontecer com seus colegas.
Intitulado “Quiet Quitting, Firing and Hiring: Just a Social Media Trend?”, um artigo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, em Lisboa, Portugal, analisou as respostas de 125 trabalhadores portugueses.
Em relação ao quiet firing, as maiores afirmações foram “Estou insatisfeito com as tarefas designadas a mim”, “Sinto que estou sendo forçado porta afora”, e “Meus líderes não permitem que eu participe de projetos além daqueles já atribuídos a mim”.
Apesar de diferentes, os estudos chegam às mesmas conclusões: o quiet firing é uma prática prejudicial aos colaboradores e à empresa.
Índice:
O quiet firing consiste em uma série de comportamentos para forçar um colaborador a pedir demissão.
A partir de aumento de trabalho, exclusão de atividades, falta de feedbacks, negligência e a criação de uma atmosfera pouco amigável, a intenção é nutrir o desconforto do colaborador para que o desligamento seja voluntário.
O quiet quitting é uma tentativa dos colaboradores de estabelecer limites entre vida pessoal e profissional, prezando pela própria saúde física e mental ao fazer apenas o necessário dentro do escopo de suas funções.
Já o quiet firing é atribuído às empresas, que pressionam os profissionais a se retirarem espontaneamente para que a demissão não parta do empregador.
Embora o quiet firing possa ser uma resposta diante o entendimento errôneo do quiet quitting — já que algumas organizações interpretam a prática como desinteresse e até incompetência —, também pode existir em meio a equipes que se esforçam além do esperado para manter ou aumentar seu desempenho, arriscando, inclusive, o desenvolvimento de problemas como sobrecarga e burnout.
Segundo o relatório da Zety, os principais sinais de quiet firing são:
O relatório da Zety também indica o que motiva o quiet firing:
A pesquisa conclui que os empregadores recorrem ao quiet firing para evitar riscos legais, financeiros e de reputação.
Os principais motivos são uma suposta prevenção contra problemas legais (22%) e redução de conflito (22%), seguidos por evitar obrigações monetárias (18%), proteger a imagem da empresa (15%), lidar com colaboradores que não se encaixam na cultura organizacional (12%), eliminar cargos redundantes de forma gradativa (8%) e adaptar o deslocamento de empregos impulsionados por Inteligência Artificial (2%).
30% dos profissionais não apenas percebem os sinais de quiet firing, mas também sentem que são condicionados a treinar seus substitutos enquanto são deixados de lado.
As reações são variadas. 53% começam a procurar um novo emprego imediatamente, 25% confrontam seus líderes ou o RH, 13% tentam aumentar seu desempenho — mesmo sabendo que esse não é problema — e 9% não fazem nada e observam como as coisas se desenrolam.
A saúde mental dos colaboradores pode ser profundamente afetada. O isolamento e o sentimento de não pertencimento têm potencial para minar a autoconfiança e até evoluir para distúrbios como ansiedade, depressão e doenças físicas. Considerando esses efeitos, 79% das pessoas preferem ser demitidas sem rodeios a ter que passar por situações de terror psicológico velado.
Nas empresas, o clima e a cultural organizacional correm perigo porque se cria um ambiente hostil e desconfortável mesmo para aqueles que não estão envolvidos.
O relatório da Zety afirma que empresas conhecidas por práticas de quiet firing são evitadas por 73% dos profissionais, o que significa que o employer branding também sofre. Consequentemente, a credibilidade geral é prejudicada.
O quiet firing também pode ser considerado assédio moral, a depender das ações do empregador, provas coletadas pelo colaborador e modo de condução de um possível processo.
A cartilha “Assédio moral e sexual no trabalho”, do Senado Federal, descreve o assédio moral como a “repetição deliberada de gestos, palavras (orais ou escritas) e/ou comportamentos que expõem o/s servidor/a, o/a empregado/a ou o/a estagiário/a, ou ainda, o grupo de servidores/as ou empregados/as, a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de lhes causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica ou física, com o objetivo de excluí-los/las das suas funções ou de deteriorar o ambiente de trabalho”.
Por mais que ainda não existam legislações específicas sobre assédio moral no trabalho, projetos de lei sobre a pauta transitam o Congresso Nacional.
Mesmo assim, a responsabilização pode ser instituída nas esferas administrativa (infração disciplinar), trabalhista (arts. 782 e 483 da CLT), civil (danos morais e materiais) ou criminal.
Como o quiet firing é um sistema silencioso, pode ser mais difícil comprová-lo como assédio, mas certamente não impossível.
Obviamente, processos legais em qualquer esfera são extremamente detratores à imagem institucional perante o mercado e à sociedade.





