Economia comportamental aplicada ao RH

Entenda o conceito, a conexão com o nudge e como a economia comportamental pode fazer parte das estratégias de Recursos Humanos

6 de Junho de 2025

Leitura de 6 min

Quando o assunto é economia, é comum que números, cálculos matemáticos e complexidades do mundo das finanças sejam os principais elementos que vêm a mente, o que gera a famosa associação às Ciências Exatas.

O que muitos não sabem, no entanto, é que questões econômicas fazem parte da Área de Humanas, já que tocam diretamente na maneira como as pessoas vivem. Naturalmente, a ótica social é indispensável para entender a multiplicidade da economia, incluindo vertentes empresariais e políticas públicas.

A noção de que a economia é fortemente pautada na psique humana existe há muito tempo e em diversas formas, como na economia comportamental, uma vertente da economia fortemente ligada à psicologiaantropologianeurociência, e que pode ser observada em diversos aspectos diferentes – incluindo nas estratégias de RH.

Índice:

O que é economia comportamental?

Buscando compreender como e por que as pessoas se comportam de determinada maneira, a economia comportamental estuda emoções, hábitos, ilusões, experiências pessoais e influências externas.

A teoria baseia-se na afirmativa de que as decisões feitas por cada um são fundamentadas em diversos fatores que possam influenciar suas atitudes. Em outras palavras, cultura, costumes, status social, estrutura familiar, personalidade, entre outros elementos, são agentes que agem sobre a forma que as pessoas se portam.

Nesse sentindo, surge o afastamento do pensamento racional e a aproximação de princípios muito mais abstratos e emocionais, fazendo com que gastem seu dinheiro em coisas que podem não fazer sentido lógico, mas que afetam a mente e as emoções de alguma maneira.

Alguns exemplos de como a economia comportamental é percebida nas decisões dos consumidores é quando alguém compra um produto que promete fazer milagres para a saúde mesmo que não exista nenhum embasamento científico ou quando um investidor vende suas ações na bolsa de valores em momentos promissores por medo de sair no prejuízo.

Paula Sauer, economista, mestre em administração, especialista em psicologia econômica e professora da ESPM, explica“A economia comportamental parte do princípio de que não temos tanta capacidade cognitiva quando gostaríamos, [...] e muitas vezes tomamos decisões absolutamente irracionais e encharcadas de emoções.

Essa ciência é composta por três fundamentos:

  1. Heurísticas: baseados em experiência e entendimento geral das narrativas, são atalhos mentais utilizados nas tomadas de decisões – rápidos e simples, mas podem levar a erros.
  2. Viés cognitivo: erros sistemáticos de pensamento que se desviam do raciocínio lógico relacionados a razões de mau processamento de informações ou algum tipo de motivação subconsciente.
  3. Framing: as decisões podem ser influenciadas de diferentes formas conforme as informações são exibidas (enfoque).

Como surgiu a economia comportamental?

Ainda que houvesse estudos sobre ângulos psicológicos, antropológicos e sociais na economia desde o século XIX, naquela época, a área era principalmente dominada pela matematização.

Nos anos 1950, alguns especialistas tentaram mudar as coisas. O economista teuto-americano Herbet Simon criou a tese de racionalidade limitada para elucidar as limitações cognitivas que andam na contramão dos padrões comportamentais considerados economicamente racionais. Ele venceu a categoria de Ciências Econômicas do Prêmio Nobel em 1978, mas recebeu muitas críticas e não foi devidamente creditado.

Nos anos seguintes, outros nomes se tornaram referência no assunto ao desenvolverem novas teorias e perspectivas sobre a economia comportamental. Daniel KahnemanAmos Tversky – idealizadores dos fundamentos citados anteriormente – e Richard Thaler são todos vencedores do Prêmio Nobel.

Nudge, o empurrãozinho

Escrito por Richard Thaler e Cass Sunstein, o livro “Nudge: Improving Decisions About Health, Wealth, and Happiness” estabeleceu o conceito de nudge em 2008.

Em tradução livre para o português, o empurrão (ou empurrãozinho) é uma forma de incitar o comportamento das pessoas conforme algum objetivo. O nudge é uma influência gentilnão intrusiva, nunca controlando, forçando, ordenando ou exigindo.

Tanto a teoria do empurrão quanto da economia comportamental podem ser aplicadas em questões econômicas, é claro, como no processo de convencimento do consumidor ao comprar algum produto ou serviço, mas também são benéficas para a saúde, as relações e a área de Gente e Gestão.

Economia comportamental e nudge no RH

A função do setor de Recursos Humanos é cuidar das pessoas. Por muito tempo, esse cuidado era apenas relacionado ao cumprimento de funções burocráticas, como o pagamento de saláriocontrole de ponto, mas hoje existe a ciência de que a área também deve cultivar um olhar muito mais humanizado.

Para garantir bem-estar e bons resultados, o RH precisa compreender os times – seja de forma coletiva ou individual. As decisões que as pessoas tomam no dia a dia corporativo dizem muito sobre a maneira que foram criadascomo encaram o mundo.

Considerando a irracionalidade cunhada na economia comportamentalé possível que os colaboradores e até mesmo gestores não tomem as melhores escolhas. Isso pode acarretar todo tipo de consequência, das mais insignificantes às mais drásticas.

Para manter o equilíbrio no que diz respeito aos processos operacionais, relações interpessoais, credibilidade perante o mercado e retorno financeiro, o RH pode tomar algumas iniciativas seguindo o conceito do nudge.

Programa de recompensas por desempenho

Ao oferecer recompensas por alta performance – como prêmios em dinheiro, brindes, folgas, etc. –, os colaboradores são incentivados a ter mais dedicação para entregar resultados quantitativos e/ou qualitativos, a depender das políticas da empresa.

O líder não exige que a equipe entregue mais do que o esperado e nenhuma punição será inferida caso o desempenho extra não seja realizado, mas há o encorajamento da gratificação para um rendimento que vai além.

Orientação por resultados, satisfação monetária, valorização por reconhecimento, aumento de produtividade e retenção de talentos são alguns benefícios. 

Benefícios de bem-estar para estimular a saúde física e mental

Uma pesquisa da corretora de seguros britânica Vitality apontou que a saúde precária causa um prejuízo anual de £138 bilhões no Reino Unido devido à ausência no trabalhofalta de produtividade.

Para estimular a saúde física e mental dos colaboradores, é importante que o RH ofereça benefícios de bem-estar, incluindo convênio médico, assistência psicológica, parceria com academias, entre outros.

Os resultados são evidentes. 84% das pessoas que trabalham em empresas que proporcionam benefícios voltados ao bem-estar se dizem mais produtivos, como mostra um levantamento feito pela Alice, operadora de planos de saúde corporativos.

Feedbacks eficientes

Feedbacks fazem parte da rotina corporativa, mas muita gente subestima sua importância. Dependendo da maneira que é conduzido, é possível influenciar a conduta da pessoa nos momentos seguintes.

Muito além de avaliação, o feedback serve como um orientador. Se há coisas positivas a serem ditas, o líder deve encorajar a pessoa a continuar no mesmo caminho. Se há falhas, somente a repreensão não basta – é preciso indicar os pontos de melhoria e como fazê-lo.

Diante da delicadeza do feedback, é imprescindível que o gestor adquira uma postura firme, mas também respeitosa e cordial, utilizando essa oportunidade para ajudar a aprimorar o desempenho do colaborador.

Esse é o nudge que muitas vezes passa despercebido, mas que pode fazer toda a diferença.

Capacitação

Se uma empresa quer que seus colaboradores aprendam a operar um novo software, estejam à par das últimas novidades da área de atuação ou desenvolvam soft skills importantes para o trabalho, a capacitação é o melhor empurrão possível.

Disponibilizar treinamentos, cursos, workshops, trilhas de conhecimento e acesso a palestras e outros eventos relevantes, é uma solução eficaz para direcionar as pessoas na direção desejada por meio da educação.
 

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