No lugar da retenção de talentos, engajamento

Reter colaboradores pode ir de encontro somente com a visão das empresas e não faz com que as pessoas continuem entregando resultados

Foto de Jessica Martins

Por Jessica Martins

Fundadora e CEO da People Company, um ecossistema de educação que desenvolve profissionais de RH, Jessica é idealizadora do RH Cast, videocast de RH que mais cresce no Brasil.

23 de Outubro de 2024

Leitura de 3 min

Gosto de pensar engajamento como uma forma de substituir o conceito de retenção de pessoas.

Muitas estratégias focadas em retenção de talentos estão inclinadas a atender o desejo ou necessidade do negócio de garantir a permanência das pessoas colaboradoras. No entanto, esta vontade unilateral não vai contribuir para que seja estabelecida uma relação que faça com que as pessoas se mantenham na empresa entregando resultados.

E entregar resultados é, na minha visão, o “pulo do gato” quando falamos em permanência. Frequentemente nos deparamos com estratégias que visam “forçar” de forma sutil a decisão de ficar das pessoas, porém, esta decisão não significa que ela vai performar no seu máximo durante o período que ela estiver na sua empresa. 

Este tempo de baixa performance por falta de engajamento raramente é mensurado e pode ser estar custando caro para a sua empresa.

Índice:

Por que os colaboradores permanecem

Resgatei o artigo "Why Employees Stay" (Por que os funcionários(as) permanecem), de Vincent S. Flowers e Charles L. Hughes, publicado na Harvard Business Review em 1973, e que ganhou uma nova versão recentemente, para trazer um insight que pode te ajudar a repensar as suas estratégias de engajamento. 

Nele, os autores analisam os motivos que levam os colaboradores a permanecerem em suas empresas, mesmo quando sentem insatisfação. Flowers e Hughes optaram por investigar por que as pessoas optam por ficar, ao invés de uma abordagem focada nas razões de saída dos colaboradores(as)

Eles destacam que o engajamento prolongado pode ser impulsionado tanto por fatores internos, como satisfação no trabalho e compatibilidade com os valores da empresa, quanto por fatores externos, como oportunidades limitadas no mercado de trabalho ou laços pessoais e familiares.

Dentro de laços familiares quero trazer um ponto de reflexão:

Já parou para pensar que é bem possível que quando alguém toma a decisão de ficar ou sair de uma empresa, raramente ela toma esta decisão sozinha?

Isso quer dizer que talvez ampliar as estratégias de engajamento que envolvam a família, promovendo mais motivos para as pessoas desejarem permanecer na sua empresa, possa ser uma ação bem pensada.

Voltando ao estudo, é importante destacar que, uma vez conhecido os motivos que fazem com que uma pessoa permaneça na empresa, as lideranças precisam parar de reforçar o que não as mantêm e alocar energia necessária no reforço do que as mantêm. Talvez este seja um dos grandes desafios do RH: garantir um time de lideranças que colabore para esta tese.

Além disso, os autores identificam e explicam os quatro perfis principais de comportamento entre as pessoas colaboradoras e que podem ser utilizadas como referência para estudos internos que visam prever os riscos de perda de talentos, por exemplo.

"Turn-ons"

São altamente motivados e permanecem principalmente por razões relacionadas ao trabalho em si; 

"Turn-ons-plus"

Combinam satisfação no trabalho com fatores ambientais; 

"Turn-offs"

Estão insatisfeitos com seus empregos, mas permanecem devido a razões como dependência financeira ou falta de alternativas externas; 

"Turn-overs"

Estão insatisfeitos e têm poucos motivos para ficar, sendo os mais propensos a sair.

Agora, em 2024, o mundo do trabalho está bem diferente do que era em 1973, mas ainda assim o estudo se demonstra relevante, “atual” e gerando bons insights para a área de pessoas. 

Para finalizar, convido você a se aprofundar neste estudo e, a partir disso, fazer um MVP, ou produto viável mínimo, em uma das áreas do seu negócio, identificando onde cada uma das pessoas estão enquadradas conforme a sugestão dos 4 perfis que os autores trouxeram para o texto. 

É um bom ponto de partida para aplicar o conceito e, quem sabe, responder a pergunta de um milhão: Qual a probabilidade dos meus talentos se desligarem da minha empresa?

Jessica Martins é fundadora e CEO da People Company, um ecossistema de educação que desenvolve profissionais de RH. É também âncora do People Summit, um evento sobre o futuro digital da área de pessoas, idealizadora do HR Chief, uma imersão que desenvolve competências de negócio em lideranças de RH, Plataforma People Academy e do RH Cast, videocast de RH que mais cresce no Brasil.

Gente e gestão

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