Ser leve não é frescura, é estratégia

Entenda o cenário atual, o que dizem as leis e como inserir PcDs no mercado de trabalho
8 de Julho de 2025
Leitura de 8 min
No Brasil, existem cerca de 18,6 milhões de pessoas a partir dos dois anos de idade com algum tipo de deficiência, como mostra a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2022, feita pelo IBGE.
Já um levantamento da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego aponta que o país conta com mais de 545 mil PcDs e reabilitados do INSS inseridos formalmente no mercado de trabalho. Mesmo que esse seja o maior número da série histórica, ainda é um índice baixo em relação à quantidade de cidadãos brasileiros com deficiência – representando uma taxa de 2,93%.
A falta de interesse não é um problema. Segundo a Onlinecurriculo, plataforma digital de currículos, o crescimento de buscas por vagas afirmativas no Google aumentou 50% em 2024 comparação ao período anterior, atingindo mais de 1 milhão de pesquisas.
Outros dados revelam mais problemas no mercado:
Tudo isso expõe como, apesar das mudanças positivas que visam tornar o mercado de trabalho mais justo para as PcDs, ainda há um longo caminho a percorrer não somente na busca por empregos e admissão, mas também em relação ao desenvolvimento de carreira e igualdade salarial.
Índice:
A Lei de Cotas para Pessoas Com Deficiência (8.213/91) determina que empresas com 100 empregados ou mais reservem vagas para PcDs.
A taxa de empregabilidade aumenta progressivamente conforme o número de trabalhadores:
Já a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146/15) apresenta um conjunto de dispositivos que garantem a igualdade de condições e o exercício dos direitos e liberdades fundamentais das PcDs.
A regulamentação inclui indicadores de educação, moradia, saúde, assistência social, lazer, cultura, turismo, mobilidade, comunicação, ciência, tecnologia, política e justiça. Na seção dedicada ao trabalho (Art. 34 e 35), a lei determina:
Ainda que sigam a Lei de Cotas, existem muitas empresas que não sabem como receber colaboradores com deficiência de maneira confortável, adaptada às suas necessidades e que estimule suas habilidades e jornada profissional.
Criar um ambiente propício para as PcDs não é apenas uma questão de respeito às leis, mas também deve ser um objetivo pautado em comunidade e empatia.
Identifique as funções que podem aproveitar e potencializar as habilidades de trabalhadores com deficiência.
Aqui, é preciso conhecer os detalhes de cada cargo, compreender os tipos de deficiência e suas características e coletar informações pessoais, como idade, gênero, nível de escolaridade, etc.
Isso é importante para que o RH e os gestores possam implementar ações de inclusão laboral – jornada de trabalho, medidas de segurança, remuneração, benefícios, entre outros – que sejam adequadas de forma coletiva e individual.
As empresas devem adaptar seus espaços e processos para acomodar as PcDs. O objetivo é eliminar obstáculos que dificultam a execução de tarefas e que possam colocar a integridade física e o desempenho profissional em risco.
No trabalho presencial, é fundamental que as companhias sigam a Norma Técnica Brasileira 9050, elaborada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que estabelece critérios e parâmetros técnicos relacionados ao planejamento, construção, instalação e adaptação de ambientes acessíveis, sejam eles urbanos ou rurais.
A ABNT NBR 9050 determina uma série de diretrizes, incluindo altura e largura de portas e janelas, ângulos de alcance visual, padrões auditivos e de iluminação, posicionamento de móveis e equipamentos, sinalizações, rotas de fuga, elevadores, barras de apoio, sanitários, rampas de acesso e muito mais.
Os trabalhadores remotos podem recorrer a recursos de acessibilidade digital. Alguns exemplos são: softwares para geração de legendas/autodescrição em vídeos, cores em alto contraste, leitores e ampliadores de tela, tradutores de Línguas de Sinais, plataformas com funcionamento via comando de voz, eye e motion trackers (sensores de movimento oculares e corporais), mouses e teclados adaptados, etc.
Prevista na Lei de Inclusão, a tecnologia assistida engloba, segundo o Ministério da Saúde, “produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que tenham como objetivo promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”.
Existem vários tipos de tecnologia assistida:
Dependendo da situação e do tipo de recurso, é a própria pessoa quem deve providenciá-lo. Obter um cão-guia, por exemplo, é de responsabilidade do indivíduo, mas oferecer os equipamentos adequados para o trabalho a grupos de PcD é papel da empresa.
Gestores e colegas de trabalho devem estar prontos para receber profissionais com deficiência com respeito e compreensão às restrições associadas, mas também sem limitar o potencial desses colaboradores.
Toda a empresa deve ser conscientizada da importância da inclusão e qual a realidade das pessoas que vivem com os mais variados tipos de deficiência. Além do contexto físico e profissional, também é preciso abordar aspectos sociais e de comportamento que evolvem o tema.
O intuito é criar um ambiente que integre os colaboradores com deficiência de maneira natural e amigável, evitando situações desconfortáveis, constrangedoras e potencialmente perigosas.
Para isso, treinamentos, palestras e workshops são ótimas maneiras para educar as equipes. Considerando a delicadeza e as particularidades da pauta, indica-se buscar consultoria com PcDs e/ou especialistas na área.
Após admitidas, as pessoas com deficiência devem ser assistida em dois aspectos principais: adaptabilidade ao trabalho e desenvolvimento profissional.
Líderes e membros do time de RH devem acompanhar o desempenho dos colaboradores para se certificar de que os recursos de acessibilidade são adequados e se há algum elemento nesse sentido que pode ser melhorado para que o rendimento não seja prejudicado.
Isso é muito importante para garantir produtividade e evitar o absenteísmo e o turnover – problemas infelizmente comuns diante da contratação de PcDs devido à dificuldade de adaptação, falhas de entrosamento e falta de perspectiva de carreira.
Como visto nos dados citados anteriormente, profissionais com deficiência são pouco contemplados com promoções e cargos de liderança, o que pode causar frustração e desperdício de talentos.
Criar planos de carreira para pessoas com deficiência é uma maneira de usufruir das competências desses colaboradores, contribuindo para a formação profissional dos trabalhadores e também para levantar mudanças significativas no mercado.
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