As falsas promessas do carewashing

Empresas que se dizem comprometidas com o bem-estar, mas não exercem o que pregam, estão no centro desse fenômeno corporativo

Foto de Saúde no Prato

Por Saúde no Prato

Iniciativa do iFood Benefícios, o Saúde no Prato promove conteúdos e ferramentas sobre bem-estar, saúde e alimentação, ajudando empresas a cuidarem das pessoas com mais equilíbrio, leveza e resultados sustentáveis.

8 de Agosto de 2025

Leitura de 5 min

Carewashing é um termo que indica a prática de falsa preocupação das empresas com o bem-estar de seus colaboradores.

Isso significa que, apesar de se mostrarem preocupados com a qualidade de vida de seus empregados — inclusive oferecendo benefícios de bem-estar e postando conteúdos do gênero nas redes sociais —, os discursos promovidos pelas companhias não são verdadeiramente refletidos no dia a dia.

As consequências do carewashing incluem a deterioração da saúde mental e até física das equipesperda de credibilidade quando a realidade é exposta.

Índice:

O que caracteriza o carewashing?

O artigo “An anatomy of carewashing: Corporate branding and the commodification of care during Covid-19”, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Londres, afirma que “o carewashing pode ser visto como a mais recente iteração de gestos corporativos explícitos em apoio a causas sociais e ambientais, motivada por preocupações relacionadas à reputação e à legitimidade do papel das corporações na sociedade.

A pesquisa também evidencia aspectos desse fenômeno que ajudam a compreendê-lo melhor como um plano tático para atrair talentos e clientes sem o real esforço para prezar pela qualidade de vida dos envolvidos.

O peso do cuidado

Práticas de carewashing enfatizam o termo “care” (cuidado) em estratégias de marketing corporativo para descrever o setor responsável por bem-estar, desigualdades de gênero relacionadas ao tema e o cuidado durante a pandemia.

O artigo também aponta como o uso desse termo cresceu de maneira notável na literatura de marketing, publicidade e branding a partir desse mesmo período.

Resposta à Covid-19

Esse fenômeno compreendeu uma série de intervenções corporativas durante o “estado de emergência” promovido pela pandemia.

No entanto, segundo o artigo, a crise sanitária foi empregada de maneira ideológica, já que criou uma estrutura de medo e incerteza que facilitou novas reconfigurações sociaisoportunidades para intervenções de diversos tipos, em especial nas empresas.

De certo modo, o carewashing é como um gesto de solidariedade corporativo com motivações de capitalização.

Marketing pandêmico

O cuidado foi amplamente discutido por profissionais de marketing a partir de 2020, no início da pandemia, como estratégia para evitar crises corporativasaproveitar oportunidades favoráveis aos lucros.

Algumas das táticas adotadas por agências especializadas foram barrar conteúdos que poderiam ser considerados insultantes ou inapropriados para o período pandêmico, utilizar palavras em alta (como “remoto” e “home office”), apostar em segmentação nas redes sociais e vídeos em momentos de tráfego intenso.

A partir dessas estratégias, cria-se uma ideia de que as empresas se importam com seus clientes e colaboradores, e não apenas com aquilo que podem oferecer.

Sinais de carewashing

Apesar de não explícito, o carewashing se manifesta por sinais da rotina corporativa que podem passar despercebidos, mas que denunciam a real intenção (ou a falta dela) dos gestores que encabeçam projetos de bem-estar.

Sobrecarga de trabalho

Aulas de yoga e palestras sobre mindfulness não têm efeito se os gestores sobrecarregam seus times com pilhas de tarefas, metas irreais e prazos apertados.

Cultura sem empatia

Uma cultural organizacional pouco empática viabiliza a criação de ambientes tóxicos compostos por desrespeito, microviolências e assédio moral — seja por parte dos gestores ou entre os membros das equipes.

Diversidade e inclusão na teoria

Se uma empresa prega sua preocupação por diversidade e inclusão nas redes sociais, mas seus gestores e board de executivos não contam (ou tem poucas) pessoas pretas, mulheres, PcDs, indígenas e profissionais da comunidade LGBTQIAP+, o compromisso não é tão grande assim.

Alta rotatividade

A alta rotatividade (turnover) pode ser um sintoma da insatisfação dos colaboradores em relação ao modelo e políticas operacionais que não consideram o bem-estar coletivo e individual.

Desconsideração de pesquisas

Pesquisas de clima e engajamento são comuns nas empresas, mas há aquelas que não fazem o suficiente para ajustar seus processos com base nas respostas obtidas.

Comunicação ineficiente

Falta de clareza, privação de informações, comunicação contraditória e pouco ou nenhum espaço para críticas e sugestões são sinais de alerta do carewashing.

Difícil acesso a benefícios

Uma extensa lista de benefícios pouco importa se o acesso é dificultado. Isso enche os olhos de candidatos e recém-contratados, mas o encanto se quebra quando percebem que a utilização dessas vantagens é coberta por limitações.

Fugindo do carewashing

Para evitar o carewashing, atitude mais básica é seguir as Normas Regulamentadoras, que estabelecem diretrizes para que empresas de diferentes setores garantam a integridade de seus colaboradores.

Vale mencionar que a famosa NR-1, referente ao gerenciamento de riscos ocupacionais de segurança e saúde no trabalho, foi atualizada recentemente com a inclusão de aspectos psicossociais.

Às empresas que querem ir além, o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental (Lei Nº 14.831), em vigor desde março de 2024, pode impulsionar as políticas de cuidado no cenário organizacional.

No entanto, também é possível que o selo seja utilizado como estratégia de marketing sem real compromisso com a qualidade de vida do quadro de colaboradores, provocando, mais uma vez, o carewashing.

Outros elementos são benéficos à prevenção desse fenômeno, incluindo:

  • Comunicação assertiva, com espaço para diferentes opiniões, respeito entre as partes envolvidas, feedbacks construtivos e respeitosos, e informações claras e objetivas.
  • Autonomia para que o colaborador tenha poder de escolha — dentro das configurações e limites de seu cargo e atividades.
  • Distribuição de tarefas, metas alcançáveis e prazos justos para evitar a sobrecarga de trabalho e o esgotamento mental e físico.
  • Acolhimento individual e coletivo baseado em compreensão, flexibilidade, confiança e respeito.
  • Acesso facilitado a todos os benefícios proporcionados pela empresa, com explicações claras sobre como utilizá-los.

É importante ressaltar que a preocupação com o bem-estar e os esforços para cuidar das pessoas vêm de cima. O tone at the top é essencial para ditar o tom não somente dentro da empresa, mas também no setor em que está inserida e no mercado de forma geral.

Cultura Organizacional

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