Os perigos do presenteísmo e como o RH pode agir

A inclusão de talentos com autismo não é apenas uma questão de diversidade, mas um diferencial competitivo que impulsiona a inovação e o suc...
14 de Outubro de 2025
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Em um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e competitivo, a busca por talentos e um diferencial estratégico tem levado empresas a repensar suas abordagens de inclusão. No centro dessa transformação, emerge o conceito de neurodiversidade: a ideia de que variações neurológicas, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), são parte da riqueza humana e podem trazer perspectivas e habilidades únicas para o ambiente corporativo. De acordo com o Censo TE de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de 2,4 milhões de brasileiros com autismo, sendo um contingente significativo de potenciais talentos.
Por muito tempo, o foco na inclusão de pessoas autistas no mercado de trabalho esteve atrelado a metas de diversidade ou cumprimento de cotas. No entanto, o que muitas organizações estão descobrindo é que o verdadeiro valor reside na capacidade de reconhecer e integrar os talentos intrínsecos que a neurodiversidade pode oferecer, transformando a inclusão de um imperativo social em uma vantagem competitiva tangível.
Índice:
Profissionais TEA frequentemente demonstram características que são extremamente valiosas para o ambiente de trabalho moderno. Entre elas, destacam-se:
Essas habilidades são particularmente relevantes em áreas como tecnologia, análise de dados, controle de qualidade, engenharia de software e pesquisa, onde a capacidade de processar informações complexas e manter a concentração é crucial. Empresas que souberam cultivar esses talentos já reportam ganhos em inovação, produtividade e até na satisfação das equipes, como é o caso da SAP, que iniciou sua iniciativa global Autism at Work em 2013, resultando na contratação de mais de 200 pessoas inseridas no espectro em 13 países, com relatos de melhoria na qualidade dos produtos, no aumento da satisfação do cliente e no maior engajamento dos funcionários.
Apesar do potencial inegável, o processo de inclusão de talentos do espectro autista no mercado de trabalho ainda enfrenta barreiras significativas. No Brasil, por exemplo, estima-se que aproximadamente 85% dos adultos com autismo estejam desempregados, uma realidade que aponta para a urgência de estratégias mais eficazes. Grande parte desses desafios não reside na capacidade ou vontade do indivíduo neurodivergente, mas sim na falta de compreensão e adaptação por parte das organizações.
Para as pessoas autistas, os obstáculos podem surgir nos processos seletivos tradicionais, que dependem muito de interações sociais e comunicação não verbal, ou em ambientes sensoriais desfavoráveis com luzes fortes, ruídos constantes e espaços abertos que podem dificultar a concentração. Mal-entendidos sobre sarcasmo, gírias ou instruções implícitas também podem gerar frustração.
Curiosamente, um estudo realizado em Salvador (BA), revelou que 68,18% dos participantes com TEA afirmaram não ter conhecimento sobre a Lei 8.213/91, que regulamenta seus direitos em relação ao trabalho, evidenciando a lacuna de informação que também contribui para a dificuldade de inserção.
Do lado das empresas, os obstáculos se manifestam na ausência de preparo e treinamento para líderes e equipes sobre neurodiversidade, bem como na rigidez de processos de recrutamento e ambientes de trabalho que não acomodam as necessidades neurodiversas. Preconceitos e a falta de conhecimento podem levar à subestimação do vasto potencial desses profissionais.
A superação desses desafios passa por soluções proativas e um compromisso genuíno com a criação de um ambiente verdadeiramente inclusivo. Isso envolve a adaptação do recrutamento para incluir entrevistas baseadas em habilidades práticas e diferentes formatos de interação, bem como programas de estágio e trainee específicos. O ambiente de trabalho precisa ser adaptável, oferecendo flexibilidade de horário, possibilidade de trabalho remoto e espaços mais silenciosos.
Além disso, é crucial a capacitação e conscientização de gestores e equipes para entender as diferentes formas de comunicação, e a promoção de uma cultura de empatia e respeito, assim como o oferecimento de mentoria e suporte adequados para auxiliar na adaptação. A comunicação deve ser sempre clara e direta, com instruções explícitas e feedback objetivo.
Investir na inclusão de talentos autistas é mais do que cumprir uma agenda ESG; é um movimento estratégico para as empresas que buscam inovação, resiliência e cultura organizacional rica.
Ao abraçar a neurodiversidade, as organizações não apenas ampliam seu pool de talentos, mas também fortalecem sua marca empregadora, atraindo uma gama mais ampla de profissionais e sinalizando um compromisso com o bem-estar e o potencial humano em suas diversas formas.
O caminho para uma cultura de bem-estar e inclusão começa com o suporte integral aos seus colaboradores.
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