Viés comportamental em decisões estratégicas

Como o Employee Experience 720° ajuda a conectar pessoas, cultura e resultados
Cofundadora e Especialista em Talent Acquisition na Expery Company, Aline tem experiência de mais de 10 anos na área de gente e gestão, e é reconhecida como Linkedin Top Voices.
15 de Janeiro de 2025
Leitura de 4 min
A experiência do colaborador, conhecida como Employee Experience (EX), é um dos pilares estratégicos para empresas que desejam atrair, reter e desenvolver talentos. Mais do que simples engajamento, o EX envolve a criação de um ecossistema onde as necessidades reais das pessoas colaboradoras são atendidas, promovendo uma cultura sadia, colaborativa e, consequentemente, gerando resultados mútuos.
O EX bem-sucedido transforma a relação colaborador-empresa de transacional para experiencial. Mas qual é a diferença?
No modelo transacional, a relação entre colaborador e empresa é baseada em troca simples e objetiva – o colaborador oferece seu tempo e habilidades, e a empresa retribui com salário e benefícios. É uma abordagem funcional, mas limitada, onde o vínculo emocional ou o engajamento genuíno são mínimos.
Já na relação experiencial, o foco vai além da simples troca de trabalho por remuneração. A empresa se preocupa em proporcionar uma experiência rica e significativa para o colaborador em todas as etapas de sua jornada. Isso inclui ambientes de trabalho acolhedores, oportunidades de aprendizado, reconhecimento e um senso de propósito alinhado aos valores individuais.
Transformar o relacionamento para um modelo experiencial significa que o colaborador não está apenas "cumprindo tarefas", mas vivenciando um ambiente que promove desenvolvimento, bem-estar e realização.
Índice:
Pense na experiência do colaborador como um casamento: não basta um pedido de noivado incrível (o recrutamento) se o relacionamento diário for negligenciado. Assim como em qualquer relação de longo prazo, o sucesso está nos pequenos gestos e na atenção contínua. Da mesma forma, as empresas precisam investir no dia a dia do colaborador e não apenas em ações pontuais.
Pensando nisso, algumas ações podem ser implementadas visando esse cuidado mais abrangente:
Ferramentas como Officevibe e CultureAmp permitem que as empresas capturem dados em tempo real sobre o bem-estar e as percepções dos colaboradores. Fóruns como "Lunch with Leaders" criam oportunidades para conversas informais e autênticas. Além disso, práticas como sessões de feedback individualizadas ajudam a identificar necessidades específicas e ao invés de apenas medir a satisfação geral, o feedback contínuo pode revelar desafios específicos em departamentos ou projetos.
Inspirado no conceito de Customer Journey Mapping, o Employee Journey Mapping identifica momentos críticos na experiência do colaborador, como o onboarding, transições de cargo e avaliações de desempenho – desde a entrada até o pós-desligamento (Alumni). Diversas ferramentas e técnicas podem ser utilizadas para coletar dados, analisar informações e implementar melhorias: pesquisa de clima, eNPS, People Analytics, Análise de entrevistas demissionais, etc. Esse mapeamento permite que empresas ajustem processos para criar uma jornada mais fluida e positiva
Segundo pesquisa do Linkedin Learning (Desenvolvimento de funcionários e aprimoramento do desempenho | LinkedIn Learning), 94% dos colaboradores afirmam que permaneceriam mais tempo em uma empresa que investisse em seu desenvolvimento. Modelos como o 70-20-10 (70% aprendizado prático, 20% compartilhamento de experiências, 10% aprendizado formal), trilhas de aprendizado personalizadas em plataformas LMS e apostar na capacitação técnica e comportamental das lideranças são ferramentas valiosas para promover crescimento contínuo.
Um estudo global da Gallup (State of the Global Workplace: Global Insights) revelou que quase 60% dos funcionários no mundo todo estão no modo “Quiet Quietting” (desistência silenciosa) e atribuem esse sentimento, em grande parte, à razões culturais que envolvem questões como reconhecimento, abertura da liderança, oportunidades de carreira, autonomia, clareza sobre promoções, respeito e aprendizado contínuo.
Partindo dessa premissa, é preciso compreender a integração completa das pessoas, levando em consideração que a experiência do colaborador deve ponderar tanto o ambiente de trabalho quanto os reflexos desse ambiente no comportamento, motivação e engajamento do indivíduo em sua vida fora da empresa.
A abordagem 720° é uma perspectiva interna e externa que leva em conta dois ciclos completos que compreendem tudo o que acontece na jornada do colaborador dentro da empresa (cultura, tecnologia, liderança, reconhecimento, qualidade de vida no trabalho) e o impacto que essas experiências internas têm na vida pessoal do colaborador, em suas interações com a sociedade e na percepção da marca empregadora.
Quando a cultura é centrada em pessoas de forma holística, o impacto nos resultados é imediatamente percebido. Para tal assimilação, é fundamental traduzir em números todos os investimentos destinados às pessoas no trabalho e qual o ROI (Retorno sobre investimento) adquirido. Desse modo, os pilares pessoas + cultura + resultados constroem uma narrativa imprescindível e eficaz para a produtividade e sucesso sustentável dos indivíduos e organizações.
Embora a ideia de um EX 720° seja transformadora, a aplicação exige uma mudança cultural genuína, onde os líderes devem abraçar a vulnerabilidade e a flexibilidade, reconhecendo que a experiência do colaborador não é um ponto fixo, mas um processo contínuo de adaptação e escuta.
O desafio está em equilibrar as expectativas e necessidades dos colaboradores e os objetivos da empresa. Uma experiência verdadeiramente transformadora é aquela que consegue criar uma convergência entre o propósito individual e o organizacional, onde ambas as partes se fortalecem, e os resultados – sejam financeiros, de inovação ou de satisfação – são consequências naturais dessa conexão genuína.