“Desigualdade de gênero não existe!” Será?
As dificuldades que as mulheres ainda enfrentam no mercado do trabalho
Por Cátia Porto
São 30 anos observando o mundo corporativo de perto – 30 anos vendo as barreiras que as mulheres enfrentam em suas carreiras. Três décadas de avanços pontuais, mas ainda insuficientes. E ainda ouvimos que essa desigualdade de gênero é uma "invenção" das mulheres “feministas”, que na prática, no dia a dia, não existe.
Índice:
- Barreiras reais
- Mulheres na liderança: os desafios persistentes
- Um passo para a igualdade e o futuro das empresas
Barreiras reais
Hoje temos um termo específico para essa desvalorização da realidade: “gaslighting”, uma manipulação psicológica onde pessoas são levadas a duvidar de sua percepção e experiências. Com ou sem nome bonito, o fato é que as mulheres continuam enfrentando barreiras reais – culturais, institucionais e pessoais – que tornam a equidade de gênero no ambiente corporativo um desafio concreto e complexo.
Mulheres na liderança: os desafios persistentes
Abaixo, destaco algumas das principais barreiras que observei e vivi ao longo da minha trajetória profissional. São obstáculos que muitas mulheres continuam enfrentando ao buscar oportunidades de liderança:
Estereótipos de gênero e códigos culturais
A expectativa de que mulheres sejam “modestas” ou “reservadas” traz desconforto, especialmente em ambientes onde a confiança e a assertividade são essenciais. Na liderança, características como firmeza e autoridade são essenciais, mas muitas mulheres ainda são rotuladas como “frias”, “insensíveis” ou “ambiciosas demais” por assumirem essa postura – uma visão moldada por estereótipos de gênero.
Falta de representação e modelos de sucesso
A ausência de mulheres em cargos altos limita a identificação para as gerações seguintes. Quando não temos mulheres em posições de liderança, outras acabam encontrando menos apoio e incentivo para visualizar esse caminho para si mesmas. Isso reforça a ideia de que a liderança é "natural" para os homens, criando um ciclo de sub-representação.
Dupla jornada e pressões familiares
A carga de trabalho extra com as responsabilidades domésticas continua a pesar mais sobre as mulheres. Essa "dupla jornada" impacta especialmente aquelas em cargos de liderança, onde se espera uma dedicação acima da média para responder às demandas profissionais.
Acesso a mentores e networking estratégico
Mentores e uma rede de contatos influentes são fundamentais para o avanço de carreira, mas as mulheres têm menos acesso a essas relações, especialmente com homens em posições de poder. A ausência desses laços limita o desenvolvimento de habilidades de liderança e reduz o apoio necessário para navegação e avanço em carreiras desafiadoras.
Um passo para a igualdade e o futuro das empresas
Reconhecer que a desigualdade de gênero existe – sim, todos os dias, nós sentimos e testemunhamos, às vezes de forma sutil, outras vezes de forma brutal – não é apenas uma questão de justiça social, mas uma responsabilidade moral e estratégica. Ao promoverem a equidade, as empresas se posicionam melhor para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança, além de contribuírem para uma sociedade mais justa.
A promoção da igualdade de gênero é uma responsabilidade coletiva, e um passo essencial para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de contribuir, crescer e liderar.
Catia Porto é executiva de Recursos Humanos e conselheira, desenvolveu carreira internacional, tendo estudado e trabalhado nos Estados Unidos, México, Japão, Finlândia e Reino Unido. Formada em Psicologia pela PUC-RJ e pós graduada em Gestão de Recursos Humanos pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), também estudou Psicologia Organizacional nos Estados Unidos, em Dakota Wesleyan University. Com mais de 25 anos de experiência em Recursos Humanos e mais de 15 anos liderando grandes equipes no Brasil e no exterior, já atuou em multinacionais de diversos segmentos, como tecnologia, bens de consumo, serviços, saúde e varejo.