Para atrair talentos, Sírio-Libanês faz seleção anônima

No recrutamento do Hospital Sírio-Libanês, informações como gênero, raça e idade são omitidas para neutralizar vieses inconscientes

Foto de Think Work

Por Think Work

Desde 2020, a Think Work existe com a missão ajudar o RH a transformar o mundo do trabalho, trazendo: ideias inovadoras, aplicações práticas, conexões relevantes e ferramentas úteis para impactar positivamente o RH e a gestão de pessoas.

3 de Março de 2025

Leitura de 3 min

Quando as organizações decidem criar programas de recrutamento mais inclusivos, existe o grande desafio de contornar os vieses inconscientes de quem faz a seleção. 

O problema é que só apostar em tecnologia pode não ser o suficiente, já que esse tipo de solução é criada e programada por pessoas, ou seja, também pode carregar parcialidades, ainda que estejam em códigos. 

Quantas vezes já vimos por aí um algoritmo racista, por exemplo? 

Para contornar esse ponto, a alternativa encontrada pelo Hospital Sírio-Libanês foi criar o “Processo Seletivo Anônimo”, em que os entrevistadores da empresa não conseguem saber quem é o candidato até a sua fase final do recrutamento.

“O principal fator motivador para essa mudança foi neutralizar vieses inconscientes, possibilitando maior diversidade de raça, etnia, gênero, pessoas LGBTI+, gerações e pessoas com deficiência nos processos seletivos e, consequentemente, nas contratações”, explicou Karina Santarosa da Lomba, na época especialista em Gestão de Pessoas do hospital.

Índice:

O caminho

Antes do projeto, o recrutamento no Sírio-Libanês acontecia de forma tradicional, com o envio de currículo e o contato do recrutador diretamente com o profissional, o que fazia com que ele sempre soubesse o perfil exato de quem estava entrevistando. 

Com a mudança, as pessoas candidatas passaram a ser entrevistadas por meio de uma plataforma online, a Jobecam, empresa que oferece esse tipo de serviço. 

Durante a entrevista, os participantes têm as suas vozes e imagens modificadas, ocultando as características que poderiam interferir na escolha do finalista. O recrutador conversa ao vivo com a pessoa, mas, no lugar de sua imagem, vê um avatar, que não permite saber o gênero, idade ou a cor da pele do profissional, por exemplo. 

Por outro lado, a liderança tem acesso apenas às informações que importam para o recrutamento, ou seja, se o candidato cumpre os requisitos para a vaga, suas experiências prévias e as habilidades técnicas e soft skills que tem. 

O projeto está em vigor desde agosto de 2022. De lá para cá, passou por algumas atualizações, que vieram, principalmente, dos feedbacks de gestores e participantes. 

A mais importante delas, segundo Karina, foi também o principal desafio que o projeto enfrentou: a confiança das lideranças no processo. 

“Uma admissão 100% anônima, sem saber quem era a pessoa finalista que estava ingressando para o time, gerou desconforto em gestores e candidatos. Para evitar isso, nós incluímos uma última etapa de “revelação” ao final do processo, onde o gestor tem a oportunidade de conhecer, em uma rápida conversa, por vídeo ou presencial, quem é a pessoa que está contratando”, contou Karina.

Ela também explicou que a empresa percebeu que essa mudança no fluxo foi capaz de gerar mais confiança e empatia de ambos os lados do recrutamento. 

A iniciativa é liderada pelo RH e envolve as áreas de Atração de Talentos e de Inclusão e Diversidade. 

Os resultados

Em paralelo ao projeto, a empresa também implementou no seu sistema de cadastro de funcionários um campo de autodeclaração para mapear a demografia interna. 

De acordo com o Sírio-Libanês, apesar de não ter números anteriores para fazer um comparativo, durante o piloto do projeto, foi possível ampliar o número de contratados que fazem parte de grupos sub-representados.

Entre 21 vagas fechadas, foram contratados 90% de mulheres, 51% de pessoas negras, 30% de talentos LGBTI+ e 10% de pessoas acima dos 50 anos. Ao todo, 90 profissionais participaram do processo. 

“Nós fizemos um post no sistema de comunicação interna e tivemos um índice positivo de quase 7 mil pessoas impactadas por ele. Também divulgamos o projeto durante a Semana de Inovação do Sírio-Libanês, gerando um espaço de trocas, dúvidas e feedbacks. Foi um momento importantíssimo para fomentar o projeto internamente e potencializar o alcance externo”, finalizou Karina.

*Conteúdo publicado originalmente na Think Work Lab em 1 de agosto de 2023 com o título “Para atrair talentos, Sírio-Libanês aposta em recrutamento anônimo”. Atualizado em 4 de fevereiro de 2025 para o Acrescenta, do iFood Benefícios.

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