Futuro do trabalho com IA: e se o maior risco for humano?

Por meio de encontros mensais, as mulheres da empresa ganharam um espaço de troca e mais visibilidade para a carreira
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23 de Junho de 2025
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Se a diversidade é um desafio para qualquer organização, alguns setores ainda precisam enfrentar mais barreiras do que outros. É o caso da Renault, montadora de automóveis. Em 2021, as mulheres ocupavam apenas 12% do quadro de funcionários e 21% das posições de liderança.
Em uma indústria majoritariamente masculina, a dificuldade é dupla: de um lado, atrair mais mulheres para atuar no setor. De outro, garantir um ambiente mais inclusivo, no qual aquelas que já estão na empresa se sintam à vontade e tenham espaço para se desenvolver e crescer na carreira.
Essa foi uma das percepções que Tatiane Mesquita, então gerente de RH do time comercial e head de Diversidade e Inclusão na Renault, teve pouco depois de chegar à companhia. Ela conta que, logo ao assumir o cargo, sua primeira ação foi ouvir as pessoas.
Durante dois meses, ela se reuniu com todo o departamento comercial. Com talentos mapeados, envolveu a liderança e fez reuniões individuais. Já com o resto da equipe, organizou cafés com grupos de cinco a seis pessoas para entender como estava sendo a experiência na empresa.
Ao fim desse trabalho, um dos pontos que mais marcaram Tatiane foi justamente em relação às mulheres. “Elas sentiam que não tinham muita representatividade e nem voz, e ainda havia muitas disputas, sem ajuda mútua entre elas”, afirma.
Se a Renault já tinha um grupo de diversidade de gênero, Tatiane sentiu que precisava de algo mais específico, com o objetivo de trabalhar aquelas demandas dentro da realidade do time comercial.
O caminho
A solução foi, a partir de janeiro de 2021, criar um fórum exclusivo para as mulheres do comercial, chamado Café com Elas.
A ideia era que elas pudessem trocar experiências, dificuldades e histórias de superação. Essa seria a base para que pudessem encontrar na empresa um ambiente que impulsionasse a carreira e o desenvolvimento. Além disso, os encontros fortaleceriam o relacionamento entre as funcionárias.
Em seu diagnóstico, Tatiane percebeu que faltava colaboração entre as mulheres do time. “Meu convite para elas foi que a gente pudesse sair da teoria para a prática da sororidade e, junto com isso, apoiar o desenvolvimento delas na organização”, diz.
Para garantir o engajamento, a equipe de Tatiane pediu para as profissionais responderem um formulário com as áreas de interesse e sugestões de palestrantes que gostariam de escutar.
A partir daí, os encontros começaram a acontecer, sempre uma vez por mês, contando com colaboradoras de todos os níveis – de estagiárias a analistas e gestoras, acompanhadas por Tatiane. O formato, que começou 100% online e se tornou híbrido, possibilitou a participação de pessoas nos quatro cantos do país.
A cada edição, uma mulher é convidada para falar sobre um tópico – ela pode ser de dentro ou de fora da empresa, dependendo do assunto. “Procuramos aquelas que sejam representativas, expressivas, que possam inspirar e apoiar o desenvolvimento”, afirma Tatiane.
Os encontros já trataram de temas como coragem e vulnerabilidade, protagonismo, comunicação assertiva, carreira e maternidade, entre outros. “As pessoas compartilham histórias, dores e aprendizados”, diz.
Resultados
Quase dois anos depois do início do Café com Elas, Tatiane contou que a adesão continuou alta.
A iniciativa deu tão certo que também foi replicada em outros departamentos da Renault, como áreas fabris, de finanças, comunicação e compras.
Ainda no começo de 2022, Tatiane fez uma segunda rodada de escuta ativa junto aos funcionários, e os primeiros resultados positivos já apareciam, sobretudo na forma como as mulheres encaravam suas carreiras e oportunidades internamente.
“Elas contaram que se sentiam mais fortalecidas, que conseguiam se posicionar, que pediam a palavra para terminar de falar quando era interrompidas, e que tinham segurança para questionar quando um homem só repetia as ideias delas”, diz.
Além disso, o clima de competição diminuiu e deu lugar a um relacionamento mais próximo e de apoio no dia a dia.
Os próprios encontros passaram a abordar momentos de vulnerabilidade. Isso aconteceu em uma edição sobre saúde mental, quando as participantes dividiram situações difíceis. “Antes isso era inimaginável porque não existia um ambiente de segurança para isso.”
Outro resultado foi o recorde na pesquisa de clima: historicamente, o comercial ficava abaixo da média da empresa, sempre entre os dois últimos. Depois de iniciativas como o Café com Elas, a área ficou entre as melhores, acima da média em clima e em cultura, revelou Tatiane.
Conteúdo publicado originalmente na Think Work Lab em 13 de outubro de 2022 com o título “Renault aposta em ambiente seguro para desenvolver funcionárias”. Atualizado em 14 de maio de 2025 para o Acrescenta, do iFood Benefícios.