SXSW: tendências e lições do futuro além do futuro

Saiba porque a IA deve servir apenas como suporte para o cuidado emocional
Psicóloga e consultora de RH com mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento humano e gestão de pessoas, fala sobre liderança, inovação, cultura e comunicação.
27 de Fevereiro de 2025
Leitura de 2 min
Poderia ter pedido ajuda a uma ferramenta de inteligência artificial para escrever este texto, mas preferi vir aqui, nesta era de IA, alertar sobre os riscos e limitações de se recorrer à tecnologia para o cuidado com a saúde mental.
Fiz psicologia e, parafraseando Ana Claudia Quintana Arantes em seu livro A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver: no início da faculdade, de vida humana, só a morte, nas aulas de anatomia. Um paradoxo!
Sobre autocuidado e inteligência emocional, havia uma distância muito grande entre o que eu precisava aprender e o que eu de fato aprendia. Enquanto estudava as melhores teorias, eu não buscava entender meu despertar às três da manhã, com o coração acelerado, nem a culpa instantânea pela quantidade de café que bebia.
Eu não falava da exaustão que sentia ao acordar, nem do peso dos elefantes invisíveis sentados sobre mim, impedindo que meu dia começasse na hora.
No entanto, eu sabia descrever sintomas, identificar transtornos e citar protocolos de intervenção. Era como se existisse um abismo entre o conhecimento técnico e a vivência real do sofrimento humano. Aprendia a teoria, mas demorava a reconhecer em mim mesma os sinais de cansaço emocional que tanto estudava nos livros. Afinal, compreender algo intelectualmente não significa necessariamente senti-lo – e muito menos transformá-lo.
Quando vi a IA ser cogitada como um substituto para a terapia, tive a mesma sensação. A tecnologia pode armazenar e processar informações, reconhecer padrões e até simular interações humanas, mas isso não significa que ela compreenda o que significa estar vivo – ou sofrer.
Assim como a teoria sozinha não dava conta da minha própria experiência, a IA pode oferecer respostas bem formuladas, sugerir caminhos, apresentar estratégias de regulação emocional e até mesmo criar conteúdos inspiradores, mas não pode interpretar silêncios ou sustentar a complexidade de um vínculo humano.
Ela não consegue se angustiar diante de um silêncio, perceber o tremor sutil na voz de alguém que diz estar bem, nem reconhecer o peso de um olhar que pede ajuda sem palavras.
O cuidado com a saúde mental não é sobre respostas prontas, mas sobre escuta genuína, presença e construção de significados. Não se trata apenas de nomear emoções ou aplicar técnicas de regulação, mas de estar em contato consigo mesmo e com o outro, acolhendo nuances que nenhum algoritmo pode capturar.
O que aprendi ao longo dos anos – e que nenhuma ferramenta substitui – é que a dor psíquica não se resolve com um clique, nem com um comando bem programado. O sofrimento humano exige tempo, espaço e vínculo.
A IA pode ser um suporte, mas nunca o alicerce para o cuidado emocional. Porque sentir, compreender e transformar são processos profundamente humanos – e insubstituíveis.