Exame ASO e a Importância da Saúde Ocupacional nas Empresas

NR-1 Summit revela os riscos psicossociais no trabalho e o novo papel do RH na saúde mental corporativa. Você está preparado?
7 de Maio de 2025
Leitura de 13 min
O NR-1 Summit — evento realizado pela Starbem em parceria com o iFood Benefícios — foi um verdadeiro mergulho nas discussões sobre saúde mental e riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Com a presença de especialistas e médicos renomados, o encontro trouxe luz aos impactos da nova NR-1, especialmente no que diz respeito ao papel estratégico das empresas e, em especial, da área de Recursos Humanos.
O Acrescenta esteve presente do início ao fim para registrar os principais insights e compartilhar os aprendizados que esse tema tão urgente e necessário pede.
Índice:
Leandro Rubio, abriu o evento relembrando o que é a NR-1 e compartilhando os principais motivos de afastamento por saúde mental. O médico e fundador da Starbem, apresentou alguns dados da Gallup sobre afastamentos por saúde mental entre 2014 e 2024, onde houve um salto nos afastamos pós pandemia.
Segundo os dados levantados no mesmo estudo, constatou-se que 21% dos colaboradores estão desengajados e este desengajamento custou US$ 438 bilhões em produtividade perdida no mundo em 2024, o equivalente a quase 9% do PIB global.
Além disso, o papel dos gestores se demonstrou importante neste cenário, pois 70% do engajamento das equipes depende diretamente dos gestores, conforme a pesquisa realizada.
Além da papel fundamental da gestão, Leandro lembrou que os fatores de riscos apontados na NR-1 são também os protagonistas no desengajamento e afastamentos dos colaboradores:
Para fechar, o fundador da Starbem relembrou aos presentes que a NR-1 não foi adiada, ela entra em vigor dia 26 de Maio de 2025, e as empresas serão fiscalizadas, mas em caráter educativo. O adiamento diz respeito apenas às multas por não aderência a norma.
Com uma fala envolvente e provocadora, Michelle Schneider — autora do livro “O Profissional do Futuro”, professora e palestrante — abriu sua participação reforçando a importância de conectar passado, presente e futuro para tomar decisões mais conscientes. Para isso, ela revisitou as grandes revoluções do trabalho ao longo da história, traçando um paralelo entre o que já fomos e o que precisaremos ser.
Michelle destacou que muitas das habilidades valorizadas em outras épocas já não acompanham mais o ritmo das transformações atuais. Hoje, vivemos a 4ª Revolução Industrial — marcada pelo protagonismo da tecnologia e da inteligência artificial. Nesse novo cenário, biotecnologia, computação quântica, Internet das Coisas (IoT) e robótica não são apenas tendências: são alicerces do futuro do trabalho e da sociedade.
Com o avanço acelerado da IA, surge também um novo perfil profissional: mais generalista, curioso por natureza, com repertório amplo e pensamento criativo. Um profissional que aprende rápido, conecta saberes e transita entre áreas — alguém que cultiva uma curiosidade apaixonada e não tem medo de se reinventar.
Michelle resumiu as habilidades-chave do profissional do futuro em quatro pilares essenciais:
Segundo ela, mais do que acompanhar as mudanças, o profissional do futuro precisará cultivá-las. E isso só será possível com o fortalecimento dessas soft skills, aliadas à disposição genuína de aprender, desaprender e recomeçar quantas vezes for preciso.
“O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender. Alvin Toffler, futurista.
Nos últimos anos, muito se falou sobre bem-estar, qualidade de vida e saúde no trabalho — mas será que estamos mesmo olhando para isso com a profundidade necessária?
Durante um dos painéis do evento, especialistas trouxeram à tona um ponto essencial: gestão em ergonomia vai muito além de uma boa cadeira ou uma sala de descompressão. Eduardo Marcatto, Especialista ABNT para sistema de gestão em ergonomia, foi direto ao ponto ao lembrar que estamos falando de fatores físicos, cognitivos e organizacionais. Ou seja, os riscos psicossociais presentes na estrutura e na cultura das empresas também fazem parte da equação.
Marcio Crepaldi complementou trazendo a NR1 - Norma Regulamentadora nº 1 - para a conversa. Para o Gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente na Bauducco, a norma apesar de existir desde 1978, com atualização em 1983, passou anos sendo negligenciada tanto por governos quanto pelo mercado. Só depois da pandemia, com as vulnerabilidades escancaradas, é que ela voltou a ganhar espaço — como deveria.
Paulo Carneiro, Diretor Executivo na ABRESST, reforçou que, ao falar de saúde corporativa, precisamos olhar para um conceito mais amplo de bem-estar: a qualidade de vida precisa estar no centro da estratégia.
Mas como traduzir isso na prática e garantir que a alta liderança compreenda o que está em jogo?
Eduardo explicou que a NR1 está conectada à NR17, pois todas dialogam com a saúde ocupacional. A grande virada está no fato de que, agora, o foco deve estar em um sistema de melhoria contínua. A diretoria precisa estar envolvida, questionando ativamente:
Karen Volpato, mediadora do painel e CEO na Agente Educa, trouxe um ponto fundamental: independentemente das penalidades legais, as melhorias precisam acontecer com base nos resultados dos diagnósticos. Não é sobre cumprir exigências para evitar multa. É sobre promover saúde de verdade.
Então, o que é o mínimo necessário?
Simples? Nem tanto. Porque isso exige uma mudança de cultura.
Paulo ainda destacou que os riscos psicossociais sempre estiveram incluídos dentro da ergonomia, mesmo quando sua presença na NR gerava debates. Isso significa que a fiscalização agora vai além do punitivo: ela observa se existem ações preventivas sendo adotadas pelas empresas.
Marcio fez um alerta importante: o RH é peça-chave nesse cenário — especialmente diante de lideranças tóxicas ou que resistem a cumprir as normas. Ter canais seguros de denúncia e apoio é essencial. RH e compliance precisam andar juntos.
Por fim, Eduardo encerrou com uma provocação certeira: se queremos de fato reduzir os riscos psicossociais, precisamos entender sua origem na organização do trabalho, investir em formação, e, principalmente, agir.
Durante o painel, Marcos Morgado, Head of People Operations no iFood, lançou uma pergunta que atravessa o dia a dia de quem atua com gestão de pessoas: “O que muda na vida do RH com a NR-1? Qual é, afinal, o nosso papel nessa mudança?”
Essa provocação abriu espaço para reflexões valiosas que mostram como o RH está deixando de ser apenas uma área de processos para se tornar um agente estratégico na construção de ambientes mais humanos, saudáveis e sustentáveis.
Thais Buhatem, Médica e Diretora de Saúde na Starbem, foi direta ao ponto: o RH deixa o papel operacional para assumir o estratégico. Agora, mais do que gerir admissões e desligamentos, é preciso compreender profundamente os riscos psicossociais, olhar para a liderança, entender a cultura e cuidar da saúde emocional das pessoas.
A nova NR-1 não é só uma demanda legal. Para Iti Engers, Fundadora da Allinha, a norma representa uma valorização real da área de RH, um convite a mergulhar fundo na cultura organizacional e na forma como as pessoas se relacionam com o trabalho.
Lilian Nunes, Gerente de Saúde e Bem-estar na Claro, foi além: questionou por que precisou surgir uma lei para discutirmos saúde mental. “Precisamos ser mais letrados sobre isso”, disse. A NR-1, nesse sentido, pode ser uma aliada poderosa — não como um programa pronto, mas como uma oportunidade de mudança orgânica, enraizada na cultura da empresa.
E quando se fala de cultura, Iti lembrou: ela não se transforma de um dia pro outro. Mas é possível cultivar, dia após dia, um ambiente onde vínculos se fortalecem, líderes desenvolvem habilidades emocionais e o cuidado se torna parte do cotidiano — não só em casos extremos.
Thais reforçou que, entre todos os aspectos que o RH deve avaliar, o olhar para a liderança é um dos mais importantes. Afinal, são os líderes que estão no dia a dia com os times. São eles que escutam, acolhem ou ignoram.
Marcos trouxe o exemplo da dinâmica "times saudáveis", realizada no iFood: encontros em que os líderes escutam suas equipes, perguntam como as pessoas estão se sentindo, compartilham dores e necessidades num espaço seguro. O objetivo? Criar confiança e proximidade — o ingrediente básico de qualquer cultura saudável.
Essa transição exige preparo. Como lembrou Thais, o RH vai precisar de uma agenda robusta de capacitação, começando pelo letramento em comunicação — porque falar bem não é falar bonito, mas saber escutar, dialogar, se posicionar com respeito e empatia.
Lilian complementou com um ponto sensível: a liderança precisa estar preparada para lidar com situações do dia a dia — luto, gestação, doenças mentais ou físicas. E, mais do que isso, precisa de apoio. Parceiros, ferramentas e processos que sustentem esse cuidado.
Thais compartilhou que os feedbacks das sessões de terapia oferecidas pela Starbem têm sido extremamente positivos. Há relatos claros de melhora no bem-estar e saúde emocional de quem participa.
Lilian concluiu reforçando algo fundamental: é preciso organizar o trabalho. Olhar para os processos, identificar sobrecargas, insatisfações e criar melhorias reais. Não dá para falar de saúde mental ignorando as causas do adoecimento.
Quando o assunto é o cuidado com a saúde mental nas empresas, não dá mais pra fingir que está tudo bem enquanto o RH tenta apagar incêndios sem nem saber onde começou o fogo.
Durante o bate-papo com Thiago Liguori, médico PhD e LinkedIn Top Voice, ficou claro que muitos RHs ainda cometem erros básicos quando o tema são as Normas Regulamentadoras (como a NR1). O principal deles? A ausência de um plano de ação efetivo. “Muitas empresas sequer têm um PGR estruturado”, comentou Thiago. E sem isso, fica impossível acompanhar e mitigar riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
Segundo Renato Barbosa, CPTO na Starbem, à medida que a regulamentação cresce, a tecnologia se torna não só desejável, mas imprescindível. “Como vamos cuidar das pessoas em um mundo tão volátil e ambíguo se não conseguimos lidar com a complexidade dos dados e da legislação?” É aí que entram ferramentas como a psicometria aliada à inteligência artificial: tecnologias capazes de ampliar o olhar do RH e acelerar diagnósticos, análises e decisões.
Quando Thiago perguntou a LinkedIn TopVoice e CEO da Futuro da Saúde, Natalia Cuminale, sobre o cenário atual da saúde mental, ela trouxe uma provocação necessária: saúde mental começa pela saúde social. Não dá pra falar de bem-estar sem falar de como nos relacionamos.
Para Natalia, empresas que tratam a saúde mental como pilar estratégico — e não só como benefício de prateleira — estão saindo na frente. Elas constroem ambientes mais humanos e, de quebra, ganham em produtividade, retenção e engajamento.
Ticiana Paiva, psicóloga PhD e Head de Saúde Mental da Starbem, reforçou que a tecnologia pode (e deve) ser usada como aliada para a NR1 — principalmente para agir com velocidade diante dos riscos psicossociais.
Durante o evento, os participantes responderam uma pesquisa ao vivo da Starbem — um exemplo de como o uso de dados em tempo real pode guiar planos de ação imediatos.E aqui está o ponto-chave: não basta mapear os riscos, é preciso acompanhar de forma contínua, com ações concretas e monitoramento constante.
O uso da IA para analisar dados de saúde mental ainda divide opiniões. Mas o consenso entre os especialistas é claro: a ferramenta pode revolucionar o acesso, mas precisa de responsabilidade.
Ticiana acredita que estamos vivendo um movimento social onde as pessoas querem ser ouvidas — e que a IA pode ajudar nisso, desde que os profissionais também estejam dispostos a evoluir.
Natalia completa dizendo que estamos no meio de uma revolução. Que a IA ainda comete erros,e o olhar humano segue sendo essencial. Mas o potencial é enorme.
Normas como a NR1, psicometria, saúde mental e tecnologia não são temas separados. Eles se conectam — e é papel do RH construir essas pontes com consistência, dados e sensibilidade.
O segredo? Menos improviso, mais estratégia. Menos plano no papel, mais ação real.
Marc Tawil, LinkedIn Top Voice, Mentor e Educador abriu o papo com um alerta urgente e sensível: vivemos uma epidemia silenciosa — a epidemia da solidão. E o mais assustador? Estar rodeado de pessoas não nos livra dela.
Solidão não é ausência de companhia, é ausência de conexão. É aquele vazio que aparece mesmo em reuniões cheias, festas animadas ou timelines lotadas. É a dor de não se sentir visto, ouvido ou acolhido — e isso tem tudo a ver com pertencimento.
Solidão não é uma fraqueza individual. É um sintoma de um sistema que adoeceu.
Para Marc, estamos diante de uma crise invisível, que atravessa gerações, profissões, gêneros e classes sociais — tudo isso em pleno século da hiperconexão, onde falta vínculo mesmo com tanta conexão aparente.
O oposto da solidão não é a companhia. É a conexão real. É a saúde social.
Marc explica que, desenvolver inteligência relacional e criar espaços de pertencimento virou estratégia de longevidade. Porque a mente equilibrada gera relações mais saudáveis — e isso impacta diretamente na saúde física, mental e emocional.
“A conexão social é tão importante quanto boa nutrição, exercício e sono para a saúde e longevidade.”
— Kasley Killam
Não é mais sobre o que sabemos. É sobre como nos conectamos — conosco, com o outro e com o que ainda não sabemos.
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