Cuidados com layoffs em tempos de redes sociais
Demissões em massa ganham novas narrativas nas redes sociais e expõem desafios das empresas no mundo do trabalho digital.
Perder o acesso do computador corporativo, sem saber que foi demitido (e ficar dias esperando uma confirmação). Ser encaminhado por seguranças a duas salas distintas: a dos “cortados” e a dos “salvos”. Pedir. as contas do emprego após ter sido ativamente atraído por outra empresa, e acabar dispensado uma semana depois do onboarding. Ver o local em que trabalha comunicar uma redução de 10 mil pessoas ao longo do ano e ficar aguardando, sem saber se será impactado. Esses são exemplos de como companhias como Clicksign, Kavak, Microsoft, X e Zak teriam conduzido demissões em massa (mais de 5% do quadro) no primeiro semestre de 2023 – segundo relatos nas redes sociais.
Detalhes como esses raramente viriam a público no passado. Mas, em 2023, a forma como as companhias cortam os trabalhadores já vinha ganhando destaque em plataformas como TikTok e LinkedIn. “Alguns fatores contribuem para esse fenômeno. Um deles é que se tornou mais fácil expressar a sua voz nas redes sociais. Movimentos como o Me Too são exemplos disso”, explicou Paul Ferreira, professor de gestão estratégica e vice-diretor do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getulio Vargas (FGV). “As pessoas entenderam que precisam tomar protagonismo para mudar a sociedade.”
Crises econômicas sempre existiram; cortes de pessoal, também. A diferença é que a amplitude das redes sociais deu força e voz para profissionais que antes enfrentavam sozinhos o luto de um desligamento. E com boa parte das demissões acontecendo de maneira remota, soa vantajoso ter um espaço para buscar apoio – às vezes, descolar um novo emprego ou fazer “justiça”.
N. (que pediu para manter o anonimato) era exemplo disso. No espaço de dois meses, ele passou por duas demissões. Na segunda, foi dispensado com pouco mais de uma semana de casa, durante uma reunião virtual coletiva na qual só era possível ver e ouvir um dos fundadores anunciando o desligamento maciço. “Como que oito dias depois de ser contratado, ao lado de outras 30 pessoas, muda tudo e a empresa entra em uma crise? Se não tivesse sentido que foi desumano, eu teria apenas postado que estava disponível para trabalhar e seguiria em frente”, disse. 3.000 Poucos dias antes desta publicação, em abril de 2023, o tal post no LinkedIn tinha cerca de 3 mil curtidas
O fator geracional também tem um peso nesse momento, como explicou Marcelo Cardoso, fundador da Chie e colunista da Think Work. “Pela primeira vez, a geração Z está enfrentando uma crise de demissões em massa. Por ser uma geração que já nasceu digital, é natural que eles levem o contexto do desligamento para as redes sociais.”
Esse tipo de comportamento estava colocando o mercado em alerta. O Nubank, por exemplo, possuía um contrato não difamatório, no qual oferecia um salário adicional e extensão do plano de saúde em troca do silêncio dos demitidos. Ex-funcionários que optassem por escrever sobre a startup após a saída não ganhavam acesso aos benefícios.
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